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Qual o verdadeiro local do sepulcro de Cristo?

  • Foto do escritor: Resposta Ortodoxa
    Resposta Ortodoxa
  • 24 de abr. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 9 de dez. de 2024


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Atualmente, em Jerusalém, os peregrinos cristãos que visitam a cidade para celebrar e conhecer os lugares por onde Cristo andou, divide-se em dois grupos quando se trata de visitar o local da crucifixão, sepultamento e ressurreição de Nosso Senhor.


Desde o final do século XIX, os evangélicos e protestantes deixaram de visitar a Igreja da Ressurreição, também conhecida como Santo Sepulcro, alegando que o verdadeiro local é, na verdade, no Calvário de Gordon.


As demais confissões cristãs — ortodoxos, católicos romanos, e grupos anticalcedonianos como os coptas e armênios — continuam a peregrinar e visitar a Igreja da Ressurreição, desde o século IV. Sendo assim, vamos analisar a historicidade de cada local para descobrir qual vem a ser o local exato.


Igreja da Ressurreição (Santo Sepulcro)

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No ano 70 d.C., Jerusalém foi tomada pelas tropas romanas do General Tito e, posteriormente, em 135 d.C., pelo Imperador Adriano. Com o General Tito, os judeus foram deportados e o Templo foi incendiado. Já com o Imperador Adriano, a cidade foi completamente destruída a ponto de sobrar somente ruínas. Sobre as ruínas, Adriano edifica uma nova cidade aos moldes helênicos e a batiza de Aelia Capitolina. O acesso dos judeus à cidade foi totalmente restrito, povos estrangeiros repovoaram a cidade e, no lugar do Templo, Adriano ordena a construção de um templo dedicado a Júpiter Capitolino.


Esses acontecimentos provocaram, definitivamente, a separação do cristianismo como parte da religião judaica, fato notório na história primitiva da Igreja quando a designavam como mais uma das vertentes do judaísmo, sendo chamados de Nazarenos ou a seita do Caminho (Atos 9.2; 24.5, 13, 14).


Além da profanação do Templo, em ruínas até hoje, Adriano também procurou eliminar o culto cristão. Apenas a cento e poucos anos após a época de Cristo, os cristãos veneravam a Santa Cruz no mesmo local da crucificação e sepultamento de Cristo, no Gólgota. Os historiadores, Eusébio de Cesaréia e Sócrates Escolástico, registram a realização de cultos no local até 66 d.C., pela comunidade cristã de Jerusalém. Para acabar com a veneração ao Cristo pelos seguidores do Caminho, Adriano ergue um templo dedicado à deusa Afrodite, profanando o local de veneração dos cristãos.


Ironicamente, foi graças à profanação de Adriano que o verdadeiro local da crucificação pôde ser encontrado. Após as reformas religiosas no Império Romano, promovidas pelo Imperador Constantino em 313 d.C., por meio do Edito de Milão, que instituía a neutralidade religiosa, cessava a grave perseguição aos cristãos no Império. Não foi dessa vez que o cristianismo se tornaria a religião oficial do império, mas foi o início do período da unificação da Igreja, para pôr fim às divergências doutrinais e às heresias, visando o consenso para professar uma única fé ortodoxa, por meio dos Concílios.


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Vista do domo e da hidícula, local do sepulcro de Cristo


Santa Helena, mãe de Constantino e cristã devota, juntamente com sua sogra Eutrópia, foram incumbidas de encontrar os antigos locais de peregrinação dos cristãos primitivos, além dos locais históricos da vida de Cristo, acompanhando as escavações na Terra Santa, iniciadas pelo bispo São Macário.


Se deparando com o templo do Imperador Adriano dedicado à Afrodite, Santa Helena compra o terreno, faz uma limpeza e determina a construção de uma capela cristã, que ficou conhecida como Capela de Santa Helena. Com o passar dos anos, a capela foi sendo ampliada até se tornar o grande complexo religioso que é hoje, abrigando diversas confissões cristãs.


Calvário de Gordon

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Jardins do Calvário de Gordon


A tradição entre os protestantes tem início entre os anos de 1821 e 1822. O General Charles George Gordon, comandante dos Royal Engineers (corpo do Exército Britânico) nas Ilhas Maurício, ficou obstinado com a ideia de localizar o Jardim do Éden. Por essa causa, negou o convite para assumir o comando do Congo belga, a convite do rei Leopoldo II.

Tirou um tempo para um período de descanso e estudos no norte da África, além de fazer explorações geográficas a sítios arqueológicos religiosos em Israel. Incomodado com a devoção nos lugares sagrados, Gordon teve sua fé sensibilizada a ponto de negar que Cristo não poderia estar associado ao que ele entendia como idolatria. Velas, incensos, ícones e paramentos, o retrato da devoção cristã desde os cristãos primitivos, abalou a fé protestante inglesa de Gordon o deixando obcecado em encontrar “o verdadeiro local” da Paixão de Cristo.


Trocando cartas com Sir John Cowell, da controladoria da Rainha Victória, expôs suas aspirações e empreendeu uma busca por Jerusalém. Convenceu-se de ter encontrado o local exato ao se deparar com uma formação geológica parecida com uma caveira, adjacente ao Monte Moriá e afirmou ser este o Gólgota, o Monte Caveira.


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Monte que para Gordon era a figura de uma caveira


Não só se convenceu como convenceu a outros. Em cartas trocadas com sua irmã e um amigo, Gordon relata que a colina ao lado do Portão de Damasco seria o Gólgota, pois era possível “enxergar o Monte do Templo e bastantes poças de sangue, túmulos de muçulmanos, cavernas e jardins”.


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A panfletagem de Gordon criou um verdadeiro rebuliço, primeiro entre os batistas ingleses, que compraram o local e passaram a administrar — naquela época o território de Jerusalém era um protetorado britânico — posteriormente, todas as tradições protestantes e evangélicas em geral.


As Evidências

Além das evidências históricas nas ações do Imperador Constantino e de sua mãe Santa Helena, do relato de historiadores cristãos como Eusébio e Sócrates, há ainda inúmeros relatos de peregrinos por meio de cartas, descrevendo o local de culto da crucifixão e sepultamento de Cristo. Em particular, o relato de Saewulf, um anglo-saxão que em 1102, em suas observações, descreve que o Imperador Adriano fez amplas reformas em Jerusalém, estendendo a cidade para além daquele que era seu limite. Ele notou ser possível “ver o Monte das Oliveiras, como eram as paredes no extremo Oeste da cidade antigamente e quando a cidade foi, mais tarde, estendida” (SAEWULF, 1892 p.10; tradução do autor).


Os Evangelhos dizem que Jesus foi martirizado e sepultado fora da cidade. Adriano amplia os limites da cidade em 135 d.C. O peregrino Saewulf confirma a informação da mudança, portanto, os locais da morte e sepultamento de Cristo passam para dentro dos muros da cidade — detalhe não observado por Gordon, nem pelos protestantes.


Além disso, os próprios pesquisadores e arqueólogos dizem ser impossível que o Calvário de Gordon seja, de fato, o sepulcro de Jesus por ser de um período recente — no máximo do século VI. Ao passo que a Igreja da Ressurreição data de uma era mais antiga do que se imaginava anteriormente, a partir de uma pesquisa realizada em 2017, que também confirmou por meio de testes científicos que se tratava do mesmo túmulo do século IV, época de Constantino.


Outras inúmeras evidências foram encontradas, em uma das escavações encontraram o foro de Adriano (espécie de praça pública em cidades romanas onde se realizavam julgamentos e assembleias) sobre o templo de Afrodite, a descoberta de uma porção do muro de Herodes, bem como a “Porta do Jardim”, na seção nordeste da Igreja, confirmando as descrições dos Evangelhos.


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Igreja da Ressurreição na celebração do Fogo Sagrado, antes da Páscoa


Conclusão

As inúmeras evidências históricas e arqueológicas, a confirmação histórica de mudanças nos limites da cidade e os relatos de antigos historiadores e peregrinos da antiguidade, confirmam mais do que nunca que o verdadeiro local da crucificação e sepultamento de Nosso Senhor Jesus Cristo é exatamente a Igreja da Ressurreição, também conhecida como Santo Sepulcro.


Infelizmente, o Calvário de Gordon não passa de um belo local cenográfico com seus jardins que simulam, de certa forma, a paisagem bíblica e a sensação do sofrimento de Cristo nos Evangelhos.



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Fontes:
  • Duas Sepulturas Para um Corpo: a disputa cristã pelo verdadeiro Santo Sepulcro – pastor Magno Paganelli, teólogo e doutor em História Social (FFLCH-USP). — Portal Metodista – Universidade Metodista de São Paulo.



  • Arqueologia Bíblica: o que as últimas descobertas da Arqueologia revelam sobre as verdades bíblicas. — Randall J. Price – CPAD, 5° edição.


  • National Geographic — Age of Jesus Christ's Purported Tomb Revealed - Construction materials date to Roman times, suggesting the original Holy sites legacy has survived despiste its destruction 1000 years ago.

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