Não-ortodoxos podem comungar na Igreja Ortodoxa?
- Resposta Ortodoxa

- 31 de mai.
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Se tornou recorrente nas igrejas ortodoxas, não-ortodoxos de diversas crenças se dirigindo à fila da Comunhão. Ao ser informado que a Eucaristia é restrita somente aos ortodoxos, a reação, não poucas vezes, é de perplexidade. Alguns recebem como uma ofensa gravíssima, como se, ao informar sobre a restrição na Comunhão, tivesse cometido um crime imperdoável ao ousar orientá-los: “mas não somos todos irmãos?” ou, “não somos todos filhos de Deus?”.
Na página oficial da Arquidiocese Grega da América, do Patriarcado Ecumênico, há um artigo sobre a Comunhão que começa com a seguinte questão:
“À luz da história da Igreja, a pergunta mais adequada seria: ‘Por que alguém permite a 'comunhão aberta'?’. O fato é que, desde o início, a Eucaristia era oferecida apenas a fiéis batizados e crismados. O escrito do século II, conhecido como Didaquê, instrui os fiéis a "que ninguém coma ou beba da sua Eucaristia, exceto aqueles que são batizados em nome do Senhor". As reuniões eucarísticas dos cristãos nos primeiros séculos eram tão restritas que surgiram rumores entre os pagãos de que eles estavam, na verdade, envolvidos em sacrifícios humanos e canibalismo.”
Do mesmo modo, compartilhamos da indagação do artigo. Por quê? Não parece óbvio que não podemos participar do rito mais importante se não fomos iniciados na mesma fé e não compartilhamos das mesmas ideias e do mesmo ensino? Para se filiar a um partido político você não deve partilhar das mesmas ideias e valores desse partido?
Alguns podem questionar que também creem em Jesus. Nesse mesmo artigo, o autor prossegue:
“A Igreja Ortodoxa não considera suficiente expressar a crença em Jesus para ser admitido ao sacramento. Muitos hereges creem em Jesus. Ário, o herege do século IV, creu em Jesus. As Testemunhas de Jeová e os mórmons creem em Jesus. Os hindus creem em Jesus. Mas nenhum desses indivíduos ou grupos creem no Único Senhor Jesus Cristo, conhecido e proclamado pela Única Santa Igreja Católica e Apostólica. Na compreensão histórica da Igreja, a Comunhão sempre foi entendida como o objetivo, o clímax e a expressão da nossa unidade em Cristo. Hoje, existem mais de 25.000 denominações em todo o mundo, e entre elas há muitas visões diferentes de Jesus.”

A prática da chamada “comunhão aberta” é uma prática recente entre as variadas confissões cristãs. Até meados do século XX, todos os segmentos cristãos praticavam a comunhão fechada, ou seja, restrita somente aos seus membros. A mudança dessa compreensão surge por meio do movimento ecumenista que, desde o início, professa um relativismo teológico e igualdade de crenças. Ideias como “pluralidade” e “diversidade”, propagadas por ideologias liberais e modernistas, acusam a antiga prática da Igreja como “intolerância” e “radicalismo”, diminuindo a Igreja ao papel de mais uma entre tantas outras confissões ou “caminhos para Deus”...
Nós vivemos tempos em que o ensino e as leis da Igreja estão escritos no papel, mas as pessoas fazem todo o oposto, na prática. Não sendo isso uma espécie de dissonância cognitiva, seria então o que o Apóstolo Paulo afirma a Timóteo, que “virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” (2 Timóteo 4:3).
O Concílio de Trullo (691-692), também chamado de Concílio Quinissexto diz:
"Aqueles que não estão em comunhão com a Igreja não devem participar do Santo Mistério, pois isso é uma profanação."
De acordo com o Pendalion*, nem mesmo aquilo que sobrou da prósfora (usada no serviço de proskomidia), nem mesmo os catecúmenos podem consumir.
“Nenhum catecúmeno ou outra pessoa não batizada deve comer ou beber delas; pois, uma vez que foram oferecidas ao santo altar sacrificial, e porções delas foram empregadas nos Dons divinos, assim, e por essa razão, o que quer que tenha sobrado delas foi santificado: portanto, nada disso deve ser comido ou bebido pelos não-batizados e não-iniciados.”
Atualmente, a prática em algumas jurisdições é oferecer o pão que não foi preparado especificamente para o Sacrifício Incruento, mas apenas abençoado.
A Sagrada Comunhão é comunicada somente aos cristãos ortodoxos batizados, membros da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.
A “Doutrina dos Apóstolos” ordena: “Que ninguém coma de sua Eucaristia, a não ser aqueles que foram batizados em nome do Senhor”
São Justino Mártir, em Primeira Apologia de Justino, diz:
“E este alimento é chamado entre nós de Eucaristia, da qual ninguém pode participar, exceto aquele que crê que as coisas que ensinamos são verdadeiras e que foi lavado com a lavagem que é para a remissão dos pecados... e que está vivendo como Cristo ordenou.”

São Justino Popovic, falando sobre a chamada “comunhão aberta” ou “intercomunhão” afirma que “teríamos que nos perguntar em que eclesiologia e em que teologia da Igreja se baseia a ‘intercomunhão’?”
“A ideia de intercomunhão é contraditória em si mesma e totalmente inconcebível para a consciência Católica Ortodoxa. O segundo fato, realmente um fato sagrado da fé Ortodoxa, é o seguinte: No ensino Ortodoxo sobre a Igreja e os Mistérios, o mistério mais singular é a própria Igreja, o Corpo do Deus-homem Cristo, de modo que ela é a única fonte e o conteúdo de todos os Mistérios divinos. Fora deste Mistério teantrópico e inclusivo da Igreja, o próprio Pan-Mistério, não há e não pode haver quaisquer ‘mistérios’; portanto, não pode haver intercomunhão de Mistérios. Consequentemente, só podemos falar sobre Mistérios dentro do contexto deste Pan-Mistério único que é a Igreja.”
+ São Justino Popovic (Orthodox Faith and Life in Christ).
Mas até mesmo para os cristãos ortodoxos há requisitos para comungar. Em primeiro lugar, um cristão ortodoxo não deve ter qualquer obstáculo que o impeça de comungar, estando em paz com sua consciência e praticando a Confissão. Ele também precisa estar em jejum, de modo que a Eucaristia seja a sua primeira refeição. Por último, precisa ter fé na Igreja, como declarado no Credo. Não posso ser participante de algo que não acredito... então, porque um seguidor de qualquer outra confissão, que não acredita e confessa as mesmas coisas que a Igreja, poderia comungar na Ortodoxia?
A Igreja também proíbe que um cristão ortodoxo comungue fora da Ortodoxia, em qualquer outra crença ou confissão cristã, se colocando, desse modo, fora da Igreja. Quem assim procede, segundo os cânones, precisa se arrepender e recorrer ao Sacramento da Confissão.
Pendalion é uma coletânea de textos do Direito Canônico Ortodoxo de São Nicodemos, o Hagiorita, com todos os cânones sagrados e divinos dos santos e renomados Apóstolos, dos santos Concílios, tanto ecumênicos quanto regionais, e dos padres individuais, conforme incorporados no texto grego original, por uma questão de autenticidade, e explicados na língua vernácula para torná-los mais inteligíveis aos menos instruídos.
Fontes:
-Orthodox Faith and Life in Christ - St. Justin Popovic
-The Rudder (Pendalion) of the Metaphorical Ship of the One Holy Catholic and Apostolic Church of Orthodox Christians - São Nicodemos, o Hagiorita
-Why Non-Orthodox are Excluded from the Sacrament of Holy Communion - Greek Orthodox Archidiocese of America
-Who Can Receive Communion in an Orthodox Church - St. John Evangelist Orthodox Church
-Why Not "Open Communion" - OCA
-What's Wrong With Inter-Communion? - Fr. Lawrence Farley







Eu como um jovem católico romano, achei interessante seu texto, para nós romanos, seus sacramentos são válidos afinal possuem legítima sucessão apostólica, todavia não são lícitos, para, nos um romano só deve frequentar a igreja de vocês ou receber sacramentos de vocês caso não haja uma igreja em plena comunhão com Roma acessível, e todo aquele que é batizado mesmo fora da igreja de Roma, tendo o sacramento válido ainda mesmo não católico está dentro da igreja católica "extra ecclesiam nulla salus", significa para nós que como a santa igreja é quem trouxe os sacramentos ao mundo e preservou as tradições e as escrituras mesmo aquele que não professa a nossa fé está dentro da igreja católica, caso tenha sido…