Perenialismo: o fim do ecumenismo e a Unidade Transcendente das Religiões
- Resposta Ortodoxa
- 9 de fev. de 2023
- 14 min de leitura
Atualizado: 10 de fev. de 2023
Por Protopresbítero Peter Heers, D.Th, Professor de Teologia Dogmática, Holy Trinity Seminary, Jordanville, NY

Introdução: As Dicotomias do Diabo e Seu Fim
Uma tática testada e constante do inimigo da salvação da humanidade em Cristo é limitar as escolhas do homem a duas opções, aparentemente opostas, e impedir de ver qualquer outra possibilidade, ou descartar como impraticável ou insustentável. Por exemplo, uma delas é racional ou irracional, sendo que a opção suprarracional não é uma opção. Ou então, a pessoa deve ser cegamente obediente ou obstinada e rebelde, sendo rejeitada a verdadeira obediência. Outra, em maior escala, para os africanos ele apresenta uma magia negra aterrorizante e depois, para fugir dela, apresenta uma "boa" magia branca. Para as massas empobrecidas, a ganância do capitalismo é combatida e corrigida pela "igualdade" e "fraternidade" do comunismo. E para os que sofreram sob o domínio autoritário do protestantismo papal, há a autodeterminação e o individualismo do protestantismo reformado. E poderíamos continuar enumerando muitas outras falsas dicotomias nas quais ambas as opções são inspirações do inimigo. Mesmo hoje, com nossa atual "crise covid", a narrativa adotada afirma que a única solução para um vírus mortal é uma "vacina" experimental e potencialmente mortal - sendo que o tratamento precoce com os medicamentos existentes é ignorado em grande parte.
Desta forma, o inimigo tem manipulado com sucesso o homem ocidental por muitas gerações, desde o tempo do Grande Cisma até hoje, mantendo-o dentro de uma série constante de ações e reações, como um pêndulo que balança continuamente de um extremo para o outro. Todo o equilíbrio espiritual, a perspectiva divina, o discernimento dos espíritos e o percurso real dos Padres foram perdidos. Neste estado caótico, para aqueles que não têm a perspectiva eterna ou não veem o A (Alfa) e o Ω (Ômega) da história, é impossível determinar onde estamos no fluxo da história ou aonde estes eventos nos conduzem. Contudo, para quem pode ver, este é um processo de dissolução progressiva, que está aproximando a humanidade passo a passo do cumprimento do mistério da iniquidade, da inversão da Salvação em Cristo e de sua substituição pelo Anticristo.
Esta dissolução da unidade e da tradição cristã no Ocidente e a consequente caricatura de Cristo e Sua Igreja no Protestantismo, seja ele papal ou reformado, constituem a base para o nascimento do monstro da modernidade. No final do século XIX, as mentes mais preparadas do Ocidente que buscavam um caminho do beco sem saída do moderno Ocidente secular, olharam para a tradição do Oriente, porém, infelizmente, não para o Oriente ortodoxo, e sim para o Extremo Oriente. Estes Tradicionalistas pensavam em salvar o Ocidente do colapso por meio da injeção da "tradição" oriental e da "metafísica" como expressões da "Filosofia Perene" ou sophia perennis. A justaposição do espantalho do "cristianismo" modernista e nominalista, a lá Protestantismo, com as culturas tradicionais do Oriente, é mais um exemplo da longa lista de falsas dicotomias do inimigo que servem para manter o homem longe da comunhão com a Verdade Encarnada. No entanto, ao contrário dos extremos anteriores relacionados ao pêndulo que serviram para confinar e manipular um fragmentado Ocidente sem cabeça, o perenialismo promete acabar com os extremos e dar uma resposta "universal" definitiva ao problema das divisões, proporcionando uma "unidade" que se encontra ao mesmo tempo, para além de todas as Revelações e através delas.
O que é Perenialismo?
O perenialismo, geralmente, é entendido como a ideia de que no cerne de todas as grandes religiões se encontra a mesma experiência mística da Realidade Última. A Filosofia Perene tem suas raízes históricas no sincretismo de humanistas renascentistas como Marsilio Ficino e Pico della Mirandola, que sugeriram que Platão, Jesus, a Cabala e Hermes Trismegisto estavam todos apontando para a mesma Realidade Divina. Versões de perenialismo também são encontradas no transcendentalismo de Emerson, Coleridge e Thoreau. A maçonaria, a Sociedade Teosófica e o livro de Aldous Huxley de 1945, A Filosofia Perene, popularizaram ainda mais uma versão universalista do perenialismo, e nos anos 60 ela se tornou a ideia fundamental da Nova Era. O que é de particular interesse para nós, entretanto, é o desenvolvimento do perenialismo no século XX, e em particular como foi apresentado por meio da Escola Tradicionalista inspirada no Vedanta, especialmente por René Guenón, que muito provavelmente conheceu o perenialismo em seus anos de frequentador de loja maçônica.
Enquanto Huxley e outros abraçaram um "universalismo místico", a Escola Tradicionalista, representada por Guenon, Ananda Coomaraswamy, Frithjof Schuon, e depois por Titus Burckhardt, Martin Lings, Huston Smith, entre outros, é direcionada às tradições ortodoxas à rejeição do sincretismo moderno e do universalismo. É a esta escola que este texto irá se referir pela razão de que seus trabalhos receberam nitidamente mais atenção e tração entre determinados clérigos e teólogos acadêmicos ortodoxos. De acordo com a Escola Tradicionalista, a filosofia perene é "Verdade absoluta e Presença infinita "1.
"Como Verdade Absoluta é a sabedoria perene (sophia perennis) que permanece como a fonte transcendente de todas as religiões intrinsecamente ortodoxas da humanidade... Como Presença Infinita é a religião perene (religio perennis) que vive dentro do coração de todas as religiões intrinsecamente ortodoxas... [É] precisamente esta “religião única” que Frithjof Schuon chamou de “religião subjacente” ou “religião do coração” (religio cordis), que é o coração de toda religião...[e] que é de uma natureza essencialmente multiforme, universal ou espiritual... Em outras palavras, a “religião subjacente” permanece transcendente em relação às religiões, mesmo sendo uma presença vivificante dentro delas.”2
Assim, para o filósofo perenialista, “o cristianismo é”, como escreve Clinton Minaar, "bem diferente da forma qua islâmica ou budista; mas é um com eles em qua essência ( ou qua filosofia perene)"3 Deveria ser evidente de imediato qual é o potencial que esta concepção das religiões tem para a "unidade" da humanidade, como também para muitos daqueles que rejeitarão esta "unidade" e insistirão em permanecer com o Cristo encarnado e não adulterado. Mas eu estou me adiantando um pouco. É muito importante que compreendamos a visão perenialista das coisas para que possamos detectá-la e discernir quando ela está sendo promovida, mesmo entre alguns da Igreja. Ela pode, talvez, ser mais bem compreendida por meio de um diagrama:
Imagine a imagem de um círculo com o absoluto no centro (o domínio esotérico - misticismo, gnose, união), vários raios fluindo para fora da circunferência, sendo seus raios várias revelações de Deus, com caminhos também retornando a Ele, em Quem eles estão transcendentemente unidos. As religiões, embora unidas no núcleo, estão posicionadas ao redor do limite da circunferência (o domínio exotérico - formas, dogma, ritual), cada uma separada e distante da outra.

Por meio deste diagrama podemos ver que a questão do esoterismo e exoterismo em cada religião, é central para a teoria perenialista. A doutrina perenialista ensina que cada religião tem um aspecto formal, institucional, que é o aspecto exotérico da respectiva religião, onde elas se diferenciam de maneira mais profunda; e cada religião possui um aspecto esotérico, que existe nos métodos espirituais das religiões, onde elas parecem se aproximar, chegando até mesmo a um ponto de identificação. Examinaremos esta ideia mais adiante, depois de apresentar brevemente outros aspectos da perspectiva perenialista.
A visão perenialista da religião gira em torno da noção axiomática de Revelações múltiplas e diversas, "que 'cristalizam' e 'atualizam' em diferentes graus de acordo com o caso, um núcleo de certezas que... permanece para sempre na onisciência divina "4. Mas, isto suscita a pergunta: qual é a razão convincente de Deus querer múltiplas revelações de Si mesmo que são claramente divergentes e aparentemente opostas? Para Schuon, a razão é que as divisões da humanidade o exigem. A humanidade "está dividida em vários ramos distintos, cada um com suas características peculiares, psicológicas e outras, que determinam sua receptividade à verdade e moldam sua apreensão da realidade".5 A esses diversos ramos, então, Deus dirigiu-se a diversas revelações que foram moldadas pelas peculiaridades de cada agrupamento da humanidade:
"...o que determina as diferenças entre as formas de Verdade é a diferença entre os receptáculos humanos. Durante milhares de anos a humanidade já foi dividida em vários ramos fundamentalmente diferentes, que constitui muitas humanidades completas, mais ou menos fechadas em si mesmas, a existência de receptáculos espirituais tão diferentes e tão originais exige refrações diferenciadas da única Verdade. "6 Portanto, os perenialistas sustentam que Deus designou cada uma das "grandes religiões mundiais" para um setor ou raça específica da humanidade, e "cada uma é totalmente verdadeira no sentido de que fornece a seus aderentes tudo o que precisam para alcançar o mais alto ou mais completo estado humano".7 Islamismo para os árabes; hinduísmo, budismo e taoísmo para os povos do Extremo Oriente, cristianismo para os povos do Ocidente; judaísmo para uma seleção dos povos semitas, e assim por diante.
Esta ideia de Deus distribuindo revelações de Si mesmo feitas sob medida para subseções da humanidade, tão crucial para toda a perspectiva perenialista, entra em contradição com o manifesto testemunho da história da salvação, começando com o Dia de Pentecostes, no qual a maldição de Babel foi derrubada e a unidade de todas as raças dos homens foi atualizada em Cristo. Em Cristo foi superado o "muro da divisão" e "tantas humanidades" foram unidas, compartilhando como fazem a única natureza humana que Cristo colocou e agora se assenta à direita do Pai. Como escreve o Pe. George Florovsky,
A Igreja é a própria completude; é a continuação e o cumprimento da união teantrópica. A Igreja é transfigurada e regenerativa da humanidade. O significado desta regeneração e transfiguração é que na Igreja a humanidade se torna uma unidade, "em um só corpo". A vida da Igreja é unidade e união. O corpo é “interligado” e "multiplicado" na unidade do Espírito, na unidade do amor. O reino da Igreja é a unidade. E, é claro, esta unidade não é exterior, mas interior, íntima, orgânica. É a unidade do corpo vivo, a unidade do organismo. A Igreja é uma unidade não somente no sentido de que é uma e única; ela é uma unidade, antes de tudo, porque seu próprio ser consiste em reunir a humanidade separada e dividida. É esta unidade que é o "sobornost" ou a catolicidade da Igreja. Na Igreja, a humanidade passa para outro plano, começa uma nova forma de existência.8
Líderes eclesiásticos proeminentes expressando o perenialismo
Dos departamentos de estudos religiosos aos departamentos de Estado, e cada vez mais aos departamentos de teologia e hierarquia, a "respeitabilidade" e a "aceitabilidade" da Filosofia Perene fizeram dela, em muitos aspectos, a filosofia espiritual dominante de nosso tempo. Intelectuais bem conhecidos ou foram fortemente influenciados por ela ou se juntaram a suas fileiras; todos desde Ken Wilber a John Tavener e ao príncipe Charles, aquele famoso peregrino em Vatopedi. A visão, de que Deus deseja múltiplas revelações, foi encontrada uma vez apenas entre os eruditos-devotos dos perenialistas; agora está sendo expressa e compartilhada pelos mais altos representantes do cristianismo e do islamismo. Em fevereiro de 2019, o Papa Francisco e o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed el-Tayeb, assinaram um Documento Sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Vida em Conjunto, durante uma Conferência Global a respeito do tema em Abu Dhabi. Nesta declaração comum, foi afirmado um importante princípio do perenialismo: "O pluralismo e a diversidade de religiões, cor, sexo, raça e língua são queridos por Deus em sua sabedoria "9.

A influência do perenialismo, no entanto, não se limita de forma alguma aos líderes dos heterodoxos. Os hierarcas ortodoxos se expressaram em termos idênticos, citando praticamente as obras de Schuon e Coomaraswamy. Para citar um conhecido Arcebispo do Patriarcado Ecumênico que recentemente falou em uma reunião inter-religiosa:
“Quando você eleva uma religião acima de todas as outras, é como se decidisse que existe apenas um caminho que leva ao topo da montanha. Mas a verdade é que você simplesmente não consegue ver as miríades de caminhos que levam ao mesmo destino, porque você está cercado por pedras de preconceito que obscurecem sua visão.”10
É difícil conceber uma afirmação mais alinhada com o perenialismo e o espírito da época e mais infundada e em contradição com o phronema dos santos de Deus, os verdadeiros iniciados na vida da Santíssima Trindade. A igualdade das religiões, e sua unidade esotérica, e seus caminhos salvíficos que levam do exotérico ao absoluto — as marcas do perenialismo — estão todos aqui. No entanto, o que mais nos interessa, particularmente, é a identificação da fidelidade a Cristo, como único Caminho para o Pai, com o fanatismo e o preconceito.

Isto nos traz à memória a avaliação de dois apologistas ortodoxos bem conhecidos: Pe. John Romanides, em sua resposta ao acordo de Balamand, e Pe. Daniel Sysoev, e sua previsão do futuro em relação à missão e perseguição aos ortodoxos. Depois que os ortodoxos de Balamand caíram em ilusão e estenderam pleno reconhecimento aos sacramentos latinos, padre John identificou de forma perspicaz que, no futuro, a única explicação plausível para a contínua recusa dos ortodoxos à intercomunhão e à concelebração seria o fanatismo.
padre John Romanides

Ainda mais perspicazes são as declarações do padre Sysoev. O padre Daniel foi um grande missionário e sua experiência em pregar e ensinar a fé a muitos heterodoxos, incluindo os mais de 80 convertidos muçulmanos que se converteram por meio de seu trabalho, o levou a perceber com clareza a natureza da perseguição que se aproximava.
O próximo desafio não será para que os cristãos neguem a Divindade de Cristo. Antes, a exigência será para que os cristãos reconheçam as religiões não cristãs como caminhos igualmente salvíficos para o Único Deus. Os cristãos ficarão divididos, com aqueles que aceitarem a proposta unindo-se assim às religiões, e aqueles que se recusarem serão perseguidos como fanáticos e perigosos para a paz e segurança da sociedade.
Uma breve análise ortodoxa da visão perenialista
O que se pode dizer, no tempo limitado que nos foi concedido, acerca da perspectiva perenialista? Em primeiro lugar, com relação à questão do conhecimento, a gnosiologia, observamos que, embora se considere que os conceitos esotéricos devam ser assumidos a posteriori, eles são adquiridos a priori. O que é essencialmente especulação pura e racional por parte do escritor - já que ele não pode, por definição, ter uma experiência pessoal de todas as religiões - é colocado com confiança (orgulho) excepcional, mas injustificada.
Além disso, as perspectivas religiosas representadas pelos apologistas perenialistas são quase exclusivamente não cristãs, especialmente não ortodoxas. Isto não os impede de assegurar aos seus leitores que essencialmente, esotericamente, a forma de oração, a purificação e a comunhão são realmente similares, se não idênticas, por todo o cenário religioso. É muito conveniente para o perenialismo que a "unidade das religiões" esteja além da linha divisória esotérico-exotérica e, portanto, é uma realidade que nunca pode ser confirmada empiricamente, já que cada adepto deve permanecer dentro de sua própria tradição religiosa. É, em última análise, uma questão de confiança nos "mestres" perenialistas e percebe-se que até mesmo os convertidos de renome à Ortodoxia retêm altos níveis de confiança neles, de modo que a Ortodoxia é vista pelo prisma do perenialismo e não o contrário.
No entanto, devemos perguntar: o acentuado contraste entre exotérico e esotérico é mesmo legítimo? Da Tradição Patrística Ortodoxa e da experiência de Deus, há alguma base para fazer uma distinção tão nítida entre as formas e o Espírito? A realidade ortodoxa não nos permite separar a Carne que o Logos revestiu com o Espírito que o Logos enviou e que desce sobre as formas do pão e do vinho para transforma-los no Corpo e no Sangue que se encontra agora à direita do Pai. De fato, a transformação dessas formas exotéricas pelo Espírito em Vida Eterna se dá além da "parede divisória" esotérico-exotérica, onde nós, ainda em carne e osso, nos elevamos. É precisamente esta "escandalosa" particularidade da Encarnação e da Identidade Eterna do Logos com a Carne que Ele assumiu que é a "pedra de tropeço" para as religiões do mundo e define o Corpo de Cristo como o Céu na Terra, como nenhuma outra religião. Na Pessoa de Cristo, o esotérico Absoluto se manifestou em forma exotérica, pois "quem viu Cristo viu o Pai" (João 14:9), e "por meio dEle nós...temos acesso por um mesmo Espírito ao Pai" (Ef 2:18).
Nós não temos testemunhas oculares do Logos que atestam que Ele está na forma de um livro, muito menos do Alcorão, mas sim que, Ele, "sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas fez-se sem reputação, tomando sobre si a forma de um servo, fazendo-se semelhante aos homens" ( Filipenses 2:6-7). Ao contrário das teorias dos perenialistas, a experiência das religiões, especialmente a do Islã, que não é a de um Deus kenótico, que "sendo achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, até a morte de cruz" (Filipenses 2.8). Ao contrário, da mesma forma, da ideia perenialista de uma economia de salvação limitada em Cristo a uma esfera da humanidade e da limitação do Nome do Logos Encarnado à esfera "exotérica", e mesmo apenas a uma parte dela, pregamos um Cristo Crucificado que "Deus também exaltou soberanamente" e deu "um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho das coisas que estão no céu e na terra, e das que estão debaixo da terra, e para que toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai" (Filipenses 2.9-11).
No Corpo de Cristo, a Igreja, nós temos a unidade da terra e dos céus, do tempo e da eternidade, da origem da Revelação e da Verdade manifesta, do absoluto e do finito. Desde que o Logos se tornou e permaneceu como sarx (carne, em grego), o modo "exotérico" Pessoal de Deus é ao mesmo tempo o "modo esotérico" "superior" de Deus. Desde que o Logos se tornou carne e a carne se revestiu de Cristo, o "mundo exotérico" deixou de ser uma realidade qualificada. O Logos que se fez carne e se assenta à "mão direita" de Deus veio, e virá novamente, para julgar todos os homens, e não apenas uma parte da humanidade, não com base em uma lei espiritual esotérica, mística e oculta, mas com base em Seus Mandamentos que foram dados para todos viverem dentro e de acordo [com eles], pois eles não são formas criadas, mas energias divinas incriadas.
Por que a Ascensão do Perenialismo sinaliza o fim do Ecumenismo?
A esta altura, já deveria ser notório que, com o perenialismo, não temos o ecumenismo no sentido habitual e popular, pois a unidade de que estes filósofos falam existe apenas no plano transcendente - o de Deus, que é a própria Unidade Transcendente. Portanto, eles não estão trabalhando para uma unidade manifesta na verdade, como faz [supostamente] o ecumenismo moderno, pela simples razão de que eles já reconhecem esta unidade como existente no plano esotérico, transcendente; e não desejam e muito menos veem qualquer necessidade disso se manifestando no plano exotérico, imanente. A tarefa impossível de criar um mosaico divinamente belo do Corpo de Cristo a partir dos diversos fragmentos do Protestantismo será, em breve, finalmente abandonada. O fim do ecumenismo, como o conhecemos, está à vista. A "unidade" que o mundo busca será encontrada na unidade transcendente das religiões do perenialismo.
E esta unidade será experimentada como uma grave tentação, que visitará a Igreja em todo o mundo, visto que ocultará, para deixar de lado, a Pessoa Teantrópica de Jesus Cristo e Seu Corpo, a Igreja. Esta será a última tentação da história. Ela foi profetizada pelo próprio Cristo no Livro do Apocalipse. Ele diz: "Tu guardaste a palavra da minha paciência, eu também te guardarei da hora da tentação que virá sobre todo o mundo, para provar os que habitam sobre a terra" (Apocalipse 3:10). Como nos diz o grande Ancião Athanasius Mitilianaios, "porque esta tentação afetará o mundo inteiro, será a grande adulteração da fé na Pessoa Teantrópica de Cristo".
Os eventos apocalípticos estão no horizonte. Assim como a última geração de homens clamará por paz e segurança justamente por falta dela (e então a espada cairá), os homens que agora clamam por unidade (na verdade unidade universal) - precisamente porque lhes falta - a encontrarão no perenialismo, o que lhes dá essa unidade quase sem esforço (sem a cruz e a crucificação da mente). Como o comunismo, que não poderia satisfazer o anseio dos homens, devido a sua orientação negativa e repressiva, o ecumenismo sincretista do modernismo não satisfaz o anseio dos homens por uma unidade mais profunda e mística de cada homem e da humanidade como um todo. A humanidade exigirá uma explicação sólida, tradicional e universalmente aceitável (apelando para os orientais) no sentido de como a religião não divide, mas une a humanidade. O perenialismo está pronto para ser a justificação teórica de muitos cristãos ( inclusive "ortodoxos") para a unidade essencial, transcendente e esotérica das religiões, ainda que sob o Anticristo.
Finalmente o pêndulo deixou de oscilar, pois estamos chegando à décima segunda hora da história, o coração da noite deste mundo, quando os discípulos dormem e os traidores traem, e o Cristo Encarnado, o Crucificado, é retirado para um Salvador sem cruz.
* Publicação original em: Orthodox Ethos
Referências:
1 Lings, Martin; Minnaar, Clinton (2007), The Underlying Religion: An Introduction to the Perennial Philosophy, World Wisdom, p. xii.
2 Ibid.
3 Ibid, p. xv.
4 Oldmeadow, Harry (2010), Frithjof Schuon and the Perennial Philosophy, Word Wisdom, ISBN 978-1-935493-09-9, page vii.
5 Oldmeadow, Harry, Traditionalism: Religion in the light of the Perennial Philosophy, Sophia Perennis, San Rafael, CA., 2000, p. 69.
6 Schuon, Frithjof, Gnosis: Divine Wisdom, Perennial Books, London, 1979, p. 29.
7 Cutsinger, James, “Perennial Philosophy and Christianity”: https://www.cutsinger.net/pdf/perennial_philosophy...
8 Florovsky, Fr. Georges, “The Catholicity of the Church”: https://jbburnett.com/resources/florovsky/1/florovsky_1-3-catholicity.pdf, p. 3.
10 Fonte: The Ecumenist “Orthodox”
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