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O Ícone da Virgem de Kazan

  • Foto do escritor: Resposta Ortodoxa
    Resposta Ortodoxa
  • 27 de mar. de 2022
  • 6 min de leitura

Atualizado: 20 de mai. de 2022



O ícone da Mãe de Deus de Kazan chegou à Rússia por volta do século XIII, vindo de Constantinopla. Após o estabelecimento do Canato de Kazan — que fez daquela região um território turco-tártaro medieval, de religião islâmica — o ícone desapareceu por mais de um século. A cidade foi conquistada pelos tártaros em 1438 e somente em 1552 foi reconquistada por Ivan, O Terrível, o primeiro czar russo.

A cidade foi quase destruída por um grande incêndio em 1579, e a população muçulmana tártara que havia permanecido começou a dizer que o incêndio devastador era um castigo divino contra os cristãos conquistadores.


Foi então que a Virgem apareceu em sonho para uma menina de 10 anos, chamada Matrona dizendo a ela onde encontrar novamente o ícone perdido. Conforme pedido, Matrona contou ao arcebispo acerca de seu sonho, mas ele não a levou a sério. O sonho se repetiu por mais duas vezes tendo o mesmo resultado da primeira vez, até que a menina e sua mãe foram até ao local descrito no sonho. Era 8 de julho de 1579, o local era uma casa em escombros, destruída pelo fogo; juntas desenterraram uma imagem coberta pelas cinzas. A casa havia sido o esconderijo do ícone para salvá-lo dos tártaros. O ícone brilhava como novo. O arcebispo, reconhecendo sua incredulidade, levou o ícone para a Igreja de São Nicolau, onde um cego foi curado no mesmo dia. O padre desta igreja, Hermógenes, se tornaria mais tarde o Metropolita de Kazan.

Os milagres atribuídos ao ícone nos anos seguintes desempenharam um papel significativo na conversão gradual dos muçulmanos locais.O agora Metropolita Hermógenes estabelece o ícone na Catedral da Anunciação de Kazan e o dia 8 de julho como a comemoração em homenagem à Mãe de Deus de Kazan.


Invasão Polonesa de 1612

Após um período turbulento, com a morte do herdeiro de Ivan, Moscou foi ocupada por invasores poloneses (latinos) que num espaço de nove anos impôs alguns falsos czares e, em algumas ocasiões, tentaram converter a Rússia ao catolicismo romano, pois o papado viu nesse período de turbulência uma oportunidade para aumentar sua influência sobre as terras eslavas orientais.

A Rússia era um estado falido; o trono estava vago, o agora Patriarca Hermógenes havia sido preso, a nobreza brigava entre si, os católicos poloneses ocupavam o Kremlin, os protestantes suecos ocupavam Novgorod e milhares de pessoas estavam morrendo em tumultos e saques de bandidos, além dos ataques dos tártaros que devastavam as fronteiras ao sul da Rússia.


Foi da prisão que o Patriarca Hermógenes influenciou e inspirou uma revolta popular, decretando um jejum de três dias e solicitando que o ícone da Virgem de Kazan fosse levado aos príncipes que lideravam a resistência. O ícone foi levado à frente do regimento enquanto batalhavam pela posse da cidade. Finalmente, as forças polonesas foram expulsas e a vitória atribuída à intercessão da Theotokos e o ícone de Kazan tornou-se referência aos sentimentos nacionais, sendo invocada sempre que a nação estivesse precisando de auxílio. Ele era carregado em procissões litúrgicas ao redor das muralhas da cidade, fazendo da Virgem a protetora de Moscou.


O ícone ainda foi invocado quando se deu a invasão sueca em 1709, em que o exército russo derrotou o poderoso exército sueco, pondo fim ao status do Império Sueco como grande potência européia e também em 1812, diante da invasão dos exércitos de Napoleão.


No século XVIII, o ícone de Kazan era tido em grande estima tanto por Pedro I “o Grande” quanto por Catarina II, a Grande. Assim, foi sob Pedro I, em 1721, que um dos venerados exemplares foi transferido para São Petersburgo; mais cedo, em 1709, na véspera da Batalha de Poltava, o czar Pedro rezou com seu exército na frente do ícone de Kazan, e eles foram vitoriosos.

Em 1768, Catarina II adornou a capa do ícone original em Kazan com uma coroa de diamantes como símbolo de sua reverência pela relíquia.

O Desaparecimento

O ícone se popularizou ganhando outras cópias, todas atribuídas a milagres em toda a Rússia. Em 1904, o ícone foi roubado e os ladrões confessaram que foi por causa de sua moldura em ouro. Um deles alegou que o ícone havia sido destruído.


A Igreja passou a interpretar o desaparecimento do ícone como um sinal de tragédias que assolariam a Rússia, já que em 1905, houve a Primeira Revolução Russa, assim como a derrota da Rússia na Guerra Russo-Japonesa e, mais tarde, a Revolução de 1917.

O Uso Instrumental na Grande Guerra Patriótica

Após a Revolução, houve algumas especulações de que o ícone havia sido preservado em São Petersburgo. Durante a Grande Guerra Patriótica (1941–1945) surgiram rumores do aparecimento do ícone.


A guerra teve início após a traição de Hitler ao seu irmão de armas, Stalin. Aviões nazistas sobrevoavam cidades russas espalhando panfletos se colocando como libertadores, que trariam um tempo de liberdade em lugar da repressão comunista, principalmente na sua espiritualidade que era esmagada diariamente. Mais do que isso, nas regiões ocupadas por nazistas, as igrejas foram abertas e culto era permitido.

Como bom estrategista, Stalin fez um pronunciamento por meio do rádio para toda nação apelando para o que ele rotulava como "valores burgueses": a defesa da pátria e a religião. Iniciou o seu discurso com "irmãos e irmãs", em vez do usual "camaradas". Anunciou que estava recebendo uma delegação de clérigos, que queria negociar a eleição de um Patriarca e de que permitiria as práticas religiosas.

Atitudes surpreendentes para um sistema que repetia o lema "o proletariado não tem pátria", que assassinou mais de 20 mil padres, além da destruição sistemática de igrejas. Desde o início da Revolução o clero foi reduzido a três bispos.


É obvio que não houve arrependimento de Stalin, diferente do que algumas pessoas ingênuas possam acreditar, na verdade, o que houve foi uma contrapropaganda (para dispersar a propaganda nazista) que se aproveitava da principal característica do povo, a sua espiritualidade. As pessoas estavam procurando por padres e lotando as poucas igrejas que ainda existiam, temendo uma invasão.

Assim, Stalin foi forçado a abortar o "plano quinquenal", que previa o fechamento da última igreja em 1943 e a eliminação do último padre.


Mitos panfletários proliferaram, fazendo de Stalin uma espécie de redentor. Alguns dele citando uma suposta aparição a um clérigo libanês e o uso do ícone de Kazan. Os mitos persistem, mas já foram refutados por fatos históricos.

O fato é que uma das cópias do ícone da Mãe de Deus de Kazan foi utilizada numa procissão em Leningrado, antes do início do conflito que repeliria as forças alemãs. A Igreja, inclusive, promove festividades em homenagem à campanha vitoriosa que repeliu o invasor nazista e onde, mais uma vez, o ícone da Mãe de Deus de Kazan estava presente.

A Cópia de Pozharski (Vatikanskaya)

Desde o desaparecimento do ícone algumas cópias se espalharam ao redor do mundo, uma delas foi adquirida por um escritor que, posteriormente, fez uma avaliação técnica do objeto. Os testes mostraram que embora fosse uma cópia, era ele uma cópia do século XVI, o mesmo carregado pelo príncipe Pozharski, em 1612. O artefato foi adquirido por uma associação romana e, após alguns anos, entregue ao Vaticano. O papa João Paulo II negociou a devolução do ícone à Igreja Ortodoxa Russa.


O Retorno à Rússia

Em 2005, o ícone da Mãe de Deus de Kazan retornou à Rússia, sendo recebido pelo Patriarca Alexei II. Em 2021, o Patriarca Kirill consagrou a Catedral de Nossa Senhora de Kazan, no Tartaristão, onde o ícone foi instalado.



Além da Catedral existem outras igrejas dedicadas à Mãe de Deus de Kazan na Rússia, assim como em outros países.


Mas é curioso, de certa forma, ouvir os discursos de "consagração" e "conversão" após conhecer a longa história da intercessão da Mãe de Deus nesta nação.


"Agora a Rússia se converterá". Sério? Se converterá a quem? Acho que você quer dizer "apostatar", não? Afinal, do que uma nação convertida há mais de mil anos ao cristianismo, batizada nos rios juntamente com o imperador, se converteria a o quê exatamente?



«Nossa Senhora de Kazan, interceda pela Rússia e Ucrânia, os dois povos batizados na mesma fonte do Rio Dniepre e afasta da Igreja de Cristo a divisão e guerra. E que os inimigos da Ortodoxia pereçam em seus esforços.»




Fontes:

The Complicated History Of The Kazan Icon Of The Mother Of God — Sergei Milov — Orthodox Christianity

Commemoration of the Kazan Icon of the Mother of God and the deliverance from the Poles — Orthodox church In America


The Icon of Our Lady of Kazan — Gregory Dipippo — New Liturgical Movement

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